… que me entraram porta dentro, às dez em ponto da manhã, já o sol aquecia a areia da praia que eu perdi. entraram-me porta dentro, com sacos de material reciclável, digo, lixo, e tubos de cola, muitos tubos de cola e uma maquete para fazer crescer e apresentar na aula de ciências de amanhã. tema: poluição. bem que testaram os conceitos de poluição e em especial a sonora. sons muito acima do limiar da dor. mas muito acima é muito acima. há pelo menos uma coisa que me descansa depois destes trabalhinhos de grupo que lixam os feriados dos paizinhos e das mãezinhas, é que constato que afinal, os comportamentos do Miúdo são, nada mais nada menos que, NORMAIS. todos iguais, machos e fêmeas. Tirando o Gui que não tem telemóvel, o desgraçado, infeliz e traumatizado Guilherme, entendido que é o seu sofrimento pela restante trupe dos nokia, que da sala para o quarto comunica por sms «então, temos mil e quinhentas por dia, é para gastar. coitado do Gui, a bateria viciou e agora nepz».
«oh mãe podíamos ir lá baixo ao clube buscar um filme para ver depois do trabalho, fazíamos umas pipocas»
(histeria)
o filme: “a fome dos mortos vivos – os zombies adoram sangue”
«então mas vocês também gostam de filmes de terror como o vosso amigo?»
«amamos» – em coro
Pediram autorização para ficar às escuras, fecharam as portas da sala, escolheram os lugares no sofá (as miúdas ficam sempre no meio, já percebi), pegaram nos baldes das pipocas e desataram aos gritos, tenho a impressão que ainda antes do filme começar.
O trabalhinho que a querida da stora de ciências, a tal que manda ganfias e que tem duas verrugas, cada uma com o seu pêlo agressivo (palavas dos miúdos), está pronto, ali em cima da mesa. a Lili ficou para dormir e já estão deitados, cada um na sua cama (como convém). a centímetros de distância, tentam loucamente atingir as mil e quinhentas mensagens a que têm direito e mocham um com o outro até eu lá voltar e ameaçar a apreensão dos objectos.
Confesso não saber porque ainda me apeteceu escrever isto.
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